Diário Solitário 002

Publicado originalmente em 13 de dezembro de 2021, no Jornal Diário do Noroeste

FELIPE

Felipe tem medo, medo das pessoas, medo das decisões. Ou, Felipe se acomodou. No trabalho ele tem pavor de frequentar a copa, acha uma perda de tempo o eterno exercício dos outros funcionários de comer coisas gordurosas, enquanto falam da vida alheia. Movimento em Roleta Russa, a ordem é falar mal de quem não está ali, e quando outro chega… É hora de falar mal de quem saiu há pouco.

Os dias de Felipe são assim, ele passa as horas da semana irritado em conviver com as pessoas do trabalho, e os fins de semana imaginando emoções do passado, com medo de revivê-las no presente.

Felipe se retraiu consideravelmente nos últimos dez anos, terminou seu namoro com Sarah, afastou-se de alguns familiares e perdeu o contato com muitos amigos e amigas da época da faculdade. Enfim, viu sua juventude começar a acabar. Porém, Felipe sempre arruma um tempinho semanal para tomar chá com o senhor Antônio, seu primeiro chefe da adolescência, dono de uma empresa de frutas.

Em alguns momentos Felipe amarga a falta de sua amizade com Ricardo. Os dois foram melhores amigos por alguns anos, eram inseparáveis no começo da  Faculdade. Felipe estudou Contabilidade e Ricardo fez Direito, porém o ponto de convergência entre os amigos era o cinema. Os meninos passavam horas falando sobre filmes de terror, desde as obras do Expressionismo Alemão até os filmes comerciais de Hollywood. Em comum tinham o canone do cinema de terror psicológico: “Repulsa ao Sexo”; “Bebê de Rosemary” e “O Inquilino” obras do mestre Roman Polanski.

Ricardo e Felipe brigaram feio no último ano de faculdade e nunca mais se falaram, o motivo foi ciúmes, Ricardo não gostava das novas amizades que Felipe fez. Pouco tempo depois Ricardo começou a namorar com Caru, filha do senhor Antônio e da dona Sônia. Não demorou muito e se casaram.

Nas últimas semanas Felipe tem pensado muito, ele acha que Ricardo era o amor da sua vida, mas ele o deixou passar. O massacre mental piorou quando Felipe descobriu pelo senhor Antônio que Ricardo e Caru se separaram.

Edson Godinho

Diário Solitário 001

Publicado originalmente em 6 de dezembro de 2021, no Jornal Diário do Noroeste

Olá, querido (a) leitor (ra).

No mês de dezembro as páginas do Diário do Noroeste serão invadidas pelo projeto Diário Solitário.

Vocês irão conhecer as histórias de quatro personagens diferentes, que em comum tem a solidão e a verdade.

Sônia, Felipe, Caru e Puma, essas são nossas personagens que irão dividir com vocês um pouco de seus medos, anseios e o apreço e a aversão pela solidão. Quem sabe você não irá se identificar com alguma dessas narrativas, ou com um pouquinho de cada uma delas. Nossas personagens são reais sem o medo de ser real, e em seus Diários Solitários não têm pudores em revelar o que as afetam.

Cada um dos textos estará acompanhado de uma ilustração da personagem em questão. Os textos e ilustrações são de autoria do artista visual Edson Godinho, no caso eu, que pretendo compartilhar com vocês a solidão comum a todos (as) nós. Um feliz dezembro.

SÔNIA

Certa tarde de domingo Sônia se questiona sobre seu casamento e da solidão que vem sentindo nos últimos anos. O marido Antônio está cada vez mais distante, os filhos já não moram mais em casa, e Sônia perdeu o costume de se reunir com as antigas amigas.

Antônio sempre foi viciado em trabalho, mas nos últimos cinco anos a situação piorou, de domingo a domingo ele põe-se a trabalhar com medo que sua pequena empresa de frutas não sobreviva à crise. Sônia sabe que na vida de seu marido não há espaço para outra mulher. Tão pouco nos pensamentos de Sônia habita outro homem, mas é que Sônia esperava que aos 63 anos teria um companheiro para aproveitar momentos mais tranquilos da vida, e não um desconhecido de anos.

O começo do domingo não foi fácil, Sônia acordou e o marido já não estava mais na cama. Ela chorou no banheiro, seu café ficou muito forte e com pó no fundo, a carne queimou e o macarrão estava sem gosto.

Como última fuga Sônia abriu uma garrafa de vinho, o vinho também não foi a melhor opção. Fazia muito tempo que Sônia não bebia e aquela garrafa de vinho inteira fez Sônia adormecer em suas decepções.

À 00h Antônio chega em casa, toma um banho demorado e quente, para aliviar as tensões e preocupações financeiras. Antônio dá um beijo na testa de Sônia – que ronca em um sono profundo – ele sente o cheiro de álcool se vira e dorme.

Edson Godinho

NÃO cabia!

Eu já sentia há pouco mais de um ano que meu site anterior não cabia mais em meu mundo, na minha produção atual. Sabia que precisava selecionar mais os trabalhos e dar uma enxugada no espaço que estava muito carregado. E foi aí… Que meu site começou a dar uma série de problemas, eu com medo de perder algo que tive tanto trabalho pra fazer relutei meses em manter um site cheio de problemas técnicos no ar. Porém fui obrigado a tomar uma atitude, deletei o passado, mas antes salvei tudo que cabia nos arquivos pessoais. E aqui estou. Mais 7, mais forte!

Janaína 2022, 02 de fevereiro do seu ano!