
Outro dia quis comprar uma máquina de escrever azul, para ser o Poncela e escrever de forma marginal sobre a minha preguiça social.
Fato que, na realidade, este texto é um diário de férias, e aqui como em poucos momentos vou me atrever a escrever em primeira pessoa, na minha pessoa.
Ao sentar coloquei “Maps” de Yeah, Yeah, Yeahs. Minutos antes andava em círculos na rodoviária de Maringá escutando “Maps” e o barulho das rodinhas de minha mala preta, com detalhes verdes ao tom de Sofia Coppola. E me lembrei de quando voei para Buenos Aires escutando o mesmo som. Nessa época, nessa viagem me deslumbrei e me apaixonei por tantos metros de concreto. Conheci minha igreja preferida o Cine Gaumont, e lá vi “One Shot” (2018) de Sergio Mazza. E entendi que envelhecer é inevitável. Mas envelhecer amando a vida é um dom, espero ter este dom “divino” de Deus – fora os meus outros.
Houve uma época em que eu amava mentir a minha idade, mentir meu nome, e criar novos eus. Era ,então, eu, um corpo alto, magro, um pouco mais jovem, manipulador e sem nenhuma consciência social, ainda.
Lembro aqui de uma tarde quente de dezembro em Curitiba, na qual eu e um amigo ao embalo de muitas cervejas saímos pelas ruas com pouquíssima roupa, sentindo o sol no corpo, correndo e gritando, como em qualquer sonho febril de um jovem ébrio, fogoso e sentimental. Esta cena me veio como um quadro, ou como uma sequência de “The Dreamers” (2003) do Bertolucci.
E todas essas viagens são para falar do meu último processo de religar, eu saí da minha casa, dei o primeiro passo e pensei em religar.
Voltei a ilha e nem me lembro quantas vezes já estive lá, o fato é que sempre sou tomado em Florianópolis por uma febre que me deixa as bochechas vermelhas e a boca carnosa.
Porém desta vez passei perto da “Cantina da Pipa” e apenas tive uma memória vaga de um tórrido romance com comentários de “Rocky Horror Picture Show” (1975) de Jim Sharman.
Quando estive na UFSC sorri levemente e me recordei do balde de caipirinha da UEL – um nojo pré-juvenil – em um NDesign Magenta. E também lembrei da minha fantasia de Bowie feita de uma bermuda vermelha de tactel, para um baile que ali aconteceu.
Sim, eu me religuiei, mas também me senti dono de novas histórias… E isso é ótimo para um contador de história.
E então me senti mais do que abraçado por um velho amigo, também amante do cinema.
Eu escutei mais uma, ou muitas vezes “Kiss Me” do Sixpence None The Richer, ao por do sol.
Comprei um boneco lindo do Buzz Lightyear, só pra gravar em mim a força da amizade.
E com “Toy Story” (1995) de John Lasseter, como pano de fundo tive experiências e sensações entre o êxtase e o afeto. E em “Como Se Fosse A Primeira Vez (2004) de Peter Segal, me permiti a sentir um quentinho e uma breve confusão.
Já em Curitiba o Júnior – e este nome eu devo dizer – me deu um beijo e um abraço fraterno, e me disse que eu ainda não consigo ver tudo o que sou e faço. Esses conselhos de um amigo que sempre fala comigo e de mim com os olhos brilhantes.
Acompanhei meus amigos bebedores de Chelitas, e rimos muito ao falarmos de meus dons premonitórios como em “Amantes Passageiros” (2013) do Pedrinho.
E enfim, estive novamente em casa, e fui abraçado por todos, até os mais distantes com amor, amor sólido.
Eu queria escrever tudo isso na minha mesa vermelha, na máquina azul do Poncela. Mas escrevo no celular a caminho de Paranavaí.
Ass: Laura P. ( talvez o texto contenha erros, ele foi feito na emoção).