Publicado originalmente em 6 de dezembro de 2021, no Jornal Diário do Noroeste
Olá, querido (a) leitor (ra).
No mês de dezembro as páginas do Diário do Noroeste serão invadidas pelo projeto Diário Solitário.
Vocês irão conhecer as histórias de quatro personagens diferentes, que em comum tem a solidão e a verdade.
Sônia, Felipe, Caru e Puma, essas são nossas personagens que irão dividir com vocês um pouco de seus medos, anseios e o apreço e a aversão pela solidão. Quem sabe você não irá se identificar com alguma dessas narrativas, ou com um pouquinho de cada uma delas. Nossas personagens são reais sem o medo de ser real, e em seus Diários Solitários não têm pudores em revelar o que as afetam.
Cada um dos textos estará acompanhado de uma ilustração da personagem em questão. Os textos e ilustrações são de autoria do artista visual Edson Godinho, no caso eu, que pretendo compartilhar com vocês a solidão comum a todos (as) nós. Um feliz dezembro.
SÔNIA
Certa tarde de domingo Sônia se questiona sobre seu casamento e da solidão que vem sentindo nos últimos anos. O marido Antônio está cada vez mais distante, os filhos já não moram mais em casa, e Sônia perdeu o costume de se reunir com as antigas amigas.
Antônio sempre foi viciado em trabalho, mas nos últimos cinco anos a situação piorou, de domingo a domingo ele põe-se a trabalhar com medo que sua pequena empresa de frutas não sobreviva à crise. Sônia sabe que na vida de seu marido não há espaço para outra mulher. Tão pouco nos pensamentos de Sônia habita outro homem, mas é que Sônia esperava que aos 63 anos teria um companheiro para aproveitar momentos mais tranquilos da vida, e não um desconhecido de anos.
O começo do domingo não foi fácil, Sônia acordou e o marido já não estava mais na cama. Ela chorou no banheiro, seu café ficou muito forte e com pó no fundo, a carne queimou e o macarrão estava sem gosto.
Como última fuga Sônia abriu uma garrafa de vinho, o vinho também não foi a melhor opção. Fazia muito tempo que Sônia não bebia e aquela garrafa de vinho inteira fez Sônia adormecer em suas decepções.
À 00h Antônio chega em casa, toma um banho demorado e quente, para aliviar as tensões e preocupações financeiras. Antônio dá um beijo na testa de Sônia – que ronca em um sono profundo – ele sente o cheiro de álcool se vira e dorme.
Edson Godinho