ESCORPIÃO

Te entrego um pouco da minha juventude, mas apenas um pouco, já que ela começa a se encerrar.

Na segunda-feira peguei sua mão enquanto você me dizia que nos reencontramos dez após nosso primeiro encontro, no mesmo lugar. E te juro que não senti nada, e nem me assustei por não sentir nada. Eu sempre pensei que se te encontrasse novamente iria sentir algo muito intenso. Mas não, não senti. Entendi que…

Acordei no sábado anterior com duas picadas em meu corpo, no decorrer do dia elas foram se alastrando como estrias do meu ombro em direção ao peito. Um escorpião me picou, a tempo o processo foi interrompido por uma vacina.

Entendi que nunca fui apaixonado por você, fui apaixonado pela realidade que criei de você. Uma falsa realidade tão bem elaborada, que fiquei durante sete anos, sete longos anos, amando um VOCÊ que só existia em minha cabeça.

Mas posso dizer que não gostei do seu abraço, não por você, mas pelo contato humano sem permissão. Nada a ver com seu signo.  

Não gostei quando fui tocado algumas vezes no braço em um encontro derivado do aplicativo. Não gostei do chá que tomamos. Não gostei do dente sujo de alguma fruta pós café da manhã. Mas mesmo assim fiquei interessado por você por alguns dias, porém meu poder de abstração é tão grande quando minha cara de pau.

Ao retornar para casa do espetáculo cancelado, na fila do caixa das lojas AMERICANAS, fiquei hipnotizado por uma camiseta do SUBLIME. O dono da camiseta também era muito bonito. Ele virou para a sua possível namorada e disse:

– Quer um docinho?

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